E se Hogwarts fosse uma escola pública brasileira?
Essa é a premissa básica da série de "A Arma Escarlate", de Renata Ventura, apelidado de "O Harry Potter brasileiro". A história se passa em um universo de fantasia, deixando sempre a entender que seria ser o mesmo de Harry Potter, com o jovem Hugo, que também descobre que é um bruxo através de uma carta e é convidado para frequentar uma escola de magia e bruxaria, só que no Rio de Janeiro. Só que o mundo bruxo brasileiro é muito diferente do europeu.
Com feitiços em tupi e iorubá, varinhas de pau-brasil com pelos de curupira e um número quase infinito de easter-eggs brasílicos, a autora cria uma narrativa envolvente, com todo tipo de curiosidades sobre a história, o folclore, a literatura e a música do Brasil, mas sem que a historia fique dependente destes elementos.
A trama é mais complexa e bem mais adulta do que a saga de HP, com indicativo de idade que chega a 16 anos no terceiro livro, e aborda temas sensíveis do povo brasileiro, como a corrupção, a desigualdade social e o famoso "complexo de vira-lata", que faz os "bruxos" acharem que tudo o que vem da Europa é melhor do que o que temos aqui. Os personagens são complexos e bem desenvolvidos e a narrativa consegue se mostrar bem pouco previsível. A autora, de forma quase sádica, parece se divertir em brincar com as expectativas do leitor em cada parágrafo que os livros avançam. Uma certa dose de drama e suspense aparecem com frequência, entre pitadas de comédia e fantasia, deixando claro que os problemas do Brasil não podem ser resolvidos apenas com um passe de mágica.
A metafísica também é abordada de uma maneira mais profunda do que na saga inglesa que a inspirou, como se esperasse achar um jeito de justificar todas as mudanças e ainda complementar, de forma criativa, o que não é abordado nos livros de J. K. Rowling, não abrindo muitas brechas para discussões de "ah, mas isso não deveria funcionar assim". O mesmo é feito com questões sociais, sempre explorando tudo com uma didática simples e bastante expositiva.
A saga possui 3 livros até o momento, sendo que o terceiro livro é divido em duas partes, e a saga deve ter continuação nos próximos anos. O primeiro livro se foca principalmente na região sudeste, mas, com o desenvolver da história, começam a ser abordadas várias lendas e mitos de outras partes do Brasil e, até mesmo, do exterior. A autora chegou a receber o prêmio Codex de Ouro da Literatura e os livros da saga estiveram várias vezes no roll de "Os 10 mais vendidos" das livrarias, chegando a ter edições esgotadas.
Certamente uma ótima inspiração para sua crônica de RPG!
Agradeço muito pela indicação, adquiri os dois primeiros livros e estou fascinado, já estou lendo o segundo e já planejando com certeza comprar o próximo