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Mazagão era uma cidade portuguesa no Marrocos, fundada em 1486. Projetada por Benedetto de Ravenna, discípulo e auxiliar de Leonardo da Vinci, foi uma das mais poderosas fortalezas militares nas linhas da Jihad, a guerra santa, por séculos. Impenetrável, até ser entregue aos árabes em 1769, por ordem do Marques de Pombal, Secretário de Assuntos Estrangeiros e Guerra de Portugal, que selou a paz entre marroquinos e portugueses com Maomé II do Marrocos. As quase 2 mil pessoas que viviam na colônia seriam enviadas compulsoriamente para o Brasil.
Após quase de três anos entre viagens e períodos de espera pelas embarcações, nas quais ficaram hospedadas em Portugal e depois em Belém do Pará, as 14 caravelas, com cerca de 400 famílias (números divergem entre 340 e 470 famílias) acostumadas à vida no deserto se deparam com os perigos da selva amazônica. Nova Mazagão seria construída no estado do Amapá, como parte do projeto da coroa em povoar o norte brasileiro. Sua função seria de entreposto militar e comercial.
O governo ordenou que a planta arquitetônica da antiga cidade-fortaleza, considerada maldita pelos árabes, fosse reconstruída ali, mas os recursos não foram entregues conforme o planejado, gerando diversos problemas na construção, mas receberam canhões, escravos e algum provimento. Os moradores ainda eram proibidos de deixar a região, sob pena de serem considerados traidores.
Começam a ocorrer brigas e discórdia entre as famílias da cidade. Ao mesmo tempo, as tradições africanas, trazidas do Marrocos, e portuguesas começam a se misturar com práticas dos indígenas do povo Urubu, que residiam na região e já haviam sido catequizados por padres capuchinhos. Essa mistura gerou uma tradição cultural única no mundo. Vale mencionar que a maior parte da população de Mazagão era mestiça e de pele mulata.
Uma lenda local diz que a cidade, apesar de pequena, era próspera, mas que um padre apareceu na região e aplicou diversos golpes com diamantes falsos, feitos de um vidro. A população, revoltada com o ultraje, o teria enforcado em praça pública, mas ele teria jogado uma maldição na cidade antes de morrer, o que trouxe a praga e fez sumir os peixes e minguar a colheita.
Fato é que uma década após a chegada, a maior parte da população estaria morta e enterrada em covas rasas. Até hoje não se tem certeza do que houve, mas pesquisadores concluíram que uma epidemia de uma doença não identificada contagiou e matou boa parte dos moradores.
Todas As cartas de pedidos de socorro foram ignoradas pela coroa portuguesa, que só retirou a proibição de deixar a região em 1802. Décadas depois, a cidade seria revitalizada e hoje tem cerca de 20 mil habitantes.
Imagem: Planta da Fortaleza de Nova Mazagão
Fontes de Pesquisa:
DIAS, Joseli. Mitos e Lendas do Amapá. Brasília : Conselho Editorial do Senado Federal, 2020.
ALMEIDA. Geraldo P. Mazagão Velho: Diásporas Negras, Performance e Oralidade no Baixo Amazonas. Juruá, 2011.
VIDAL, Laurent. Mazagão: A Cidade que Atravessou o Atlântico. São Paulo: Martins, 2007.
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